quarta-feira, 29 de maio de 2013

Gratidão ao tempo


Nunca tive problemas em dizer minha idade, talvez por aparentar ser mais jovem do que realmente sou, talvez pela relação que meus pais tinham com a vida, na qual envelhecer estava intimamente relacionado com sabedoria e beleza.

Na minha casa os aniversários eram comemorados como os eventos mais importante da família, com bolo, guaraná e parabéns! Uma das fotos mais bonitas que tenho dos meus pais é exatamente num momento desses, aniversário da minha mãe, ela ofertando o primeiro pedaço de bolo para meu pai e ambos se olhando com ternura e amor... Assim era minha casa, havia amor e ternura em todos os momentos e envelhecer era algo para comemorar muito!

É por isso que gosto de comemorar, cantar parabéns, apagar velinhas, comer bolo... e nada daquelas velinhas com o ponto de interrogação, não! Quero a velinha com o meu número! Todos os dois, que esse ano são o 3 e o 7. Eita, baita número bonito! 37.



E se eu ainda aparento ter menos idade? Não sei, gosto de ser exatamente como sou, gosto das marcas que o tempo trouxe pro meu rosto de menina e da forma como ele me transformou em mulher, diga-se de passagem, muito cedo nessa vida! Gosto do número de anos que eu já vivi e da qualidade de vida que eu coloquei nesses anos todos. Você pode até me achar convencida, mas eu me acho uma mulher muito bonita e nesse ponto ter menos ou mais idade não faz a menor diferença.

Inclusive houve momentos em que aparentar menos idade foi, digamos, um pouco constrangedor. Em várias ocasiões o documento de identidade foi solicitado na entrada da danceteria ou em outros eventos em que era necessária a maioridade, afinal com 18 eu tinha mesmo uma carinha de 15.

Quando iniciei minha vida profissional como professora de biologia, ainda na faculdade, ouvi comentários do tipo “Será que a professora nova é uma chata?”. Algumas vezes o comentário foi direcionado à minha pessoa, “a professora”, que os alunos imaginavam ser apenas outra aluna.

Quando terminei o mestrado e fui fazer uma entrevista com um professor de uma universidade para me candidatar a uma vaga de doutorado o cara foi enfático:
-Eu não oriento menininhas!!!

Hoje eu queria dizer-lhe:
-Caro professor arrogante e babaca, ainda bem que você não orientava menininhas, assim me livrei de conviver com seu bafo de onça e encontrei um orientador à minha altura, cara bacana, dessas pessoas com quem vale a pena gastar o tempo que temos na vida!

Tempo, tempo, tempo... Raro, caro, lindo... Que nos molda, nos embeleza, nos faz pessoas melhores!

Acho que é isso, hoje, aos 37 anos, sou uma pessoa melhor do que eu era aos 36. Ou não (risos), depende do ponto de vista. Recentemente recebi algumas críticas de pessoas muito amadas sobre minha "lerdeza" para fazer as coisas, uma lerdeza consciente de quem resolveu se dar ao luxo de respeitar seu próprio tempo.



Alguma coisa negativa deve ter resultado dessa minha decisão de levar uma vida mais leve depois de um grande golpe que a vida me deu e que fez com que eu tivesse que recomeçar novamente, numa altura da vida que eu já gostaria de ter várias coisas definidas, família grande, filhos correndo pela casa, estabilidade profissional, emocional, financeira...

Toda decisão de mudança possui dois lados, suas consequências, seus pontos positivos e negativos. Mas chego a conclusão que é isso o bacana da vida, as reviravoltas, que possibilitam um novo começo, que permitem um reconhecimento de si, o resgate daquilo que a gente foi um dia e que fomos perdendo pelo caminho. Rir dos atropelas, daquilo que deu errado, do tropeço.
São as reviravoltas que mostram caminhos que jamais teríamos a oportunidade de conhecer e percorrer, esses mesmos caminhos que nos surpreendem com suas paisagens e cores e perfumes e sabores!

No fim a idade é apenas um número de anos vividos que não representa nada se não houver vida vivida nesses números, sentimentos intensos, amores incondicionais, paisagens de tirar o fôlego, risadas de doer a barriga, lágrimas e sorrisos, amizades de infância, de adolescência, de maturidade, amizades... Ciclos que se completam e finalizam inúmeras vezes na roda da vida, muitas vezes entre o nascente e o poente do mesmo sol!