sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Saudade


Tem dias que a saudade sufoca a gente, dá vontade de chorar, de correr com os cabelos ao vento na direção de tudo o que a gente ama mas que está longe, longe, longe...

Pra esses dias, poesia...



"Vou guardar esse amor, guardar dentro de mim. Ele vai substituir meu sangue e ficará percorrendo dia e noite pelas minhas veias e artérias, alimentando cada célula do meu corpo, impulsionando meu coração. Essa, a única forma dele continuar pulsando. O coração, que só sabe bater com esse sentimento, o coração que pára quando paro de pensar em você que só aconteceu quando parei de respirar, senti falta de ar, desmaiei e sonhei. Sonhei com você.
Vou guardar, no mundo não tem lugar que caiba, e de tão grande que não cabe no mundo vou guardar na minh’alma, que é imortal, infinita, ilimitada, imaterial. Vou guardar, sem deixar acabar, porque ele também é imortal, infinito, ilimitado, imaterial.
Vou guardar amarelo como flor de ipê florido, florido pra sempre como se todos os dias do ano fossem primavera e todas as manhãs vou acordar florida, bonita, infinita com esse amor guardado dentro de mim.
Vou guardar como luz de lua cheia e como se todas as luas fossem suas, nuas, azuis e olhassem pra mim. Toda noite terei a claridade na minha cama, entrando pela janela e saindo pelos meus poros.
Vou guardar como o oceano guarda seus segredos, como as águas guardam a vida que surgiu no planeta e as ondas guardam o som da eternidade. Todas as tardes terei a brisa que refresca e o barulho do mar que acalma e consola.
Esse amor, eu vou guardar. Todas as manhãs quando levantar e olhar no espelho verei, o amor, brilhando, acabando de acordar, estourando negro feito jabuticaba, jabuticaba doce, doce, doce. Ah como esse amor é bom, bom e doce, doce e bom.
É só um amor que não pode sair, que ninguém contou, ninguém cantou, ninguém ficou sabendo do tamanho e da beleza. Tão belo, tão grande.
Vou guardar, talvez levar pra outra vida, que de outra vida já veio, de outros sonhos, de outros tempos e outras poesias. Guardar o amor.
E meu coração já não será mais triste nem solitário, terá outra alma dentro de minha alma, outro coração dentro de meu coração. Serei só amor.
E ele ficará aqui, esperando pra não matar de vez a esperança, essa menina que deixarei dormindo, dormindo, dormindo, enquanto fica o amor guardado."

domingo, 20 de janeiro de 2013

Conhecimento x Felicidade - a Berenice

Essa é uma reflexão antiga que virou um texto no final de 2010 e resolvi compartilhá-la aqui no blog porque ela continua tão atual na minha vida quanto quando eu era adolescente. Também porque no final de 2012 a Berenice abordou minha irmã na rua pensando que ela fosse eu e, segundo minha irmã (que nem sequer pegou o telefone da menina para que eu pudesse ligar), ela está ótima e muito feliz!
Eu sempre achei que o conhecimento é inversamente proporcional à felicidade. Quanto mais a gente sabe, mais difícil é ser feliz. No espiritismo dizemos que quanto mais te é dado, mais te será pedido. Ou seja, quem sabe mais, tem mais obrigações e consequentemente terá uma prestação de contas mais rígidas do que aquele que sabe pouco.
Outro dia uma pessoa me disse que ter muitas opções era melhor que ter nenhuma, tenho minhas dúvidas em relação a isso, acho que segue a mesma linha de raciocínio do “conhecimento x felicidade”. Se você tem muitas opções terá que escolher uma, logo, poderá escolher errado. O arrependimento é cruel, se arrepender de algo é dolorido. Se você só tem uma opção, é aquilo e pronto.
Quando eu era criança meus pais se mudaram para Redenção da Serra, uma cidadezinha do interior de São Paulo com não mais que 3.000 habitantes, eu tinha 9 anos e na minha turma da escola havia uma menina chamada Berenice. A Berenice era minha amiga, me escrevia cartinhas todos os dias, era uma menina simples que morava na roça, morena e magra, com cabelos muito curtos e sempre olhava pro chão quando falava com a gente porque ela era uma menina tímida. Eu era muito bagunceira e "me achava", desde criança eu já tinha uma personalidade forte de quem sabe exatamente o que quer ou, em muitos casos, o que não quer! Eu estudei com a Berenice dos 9 aos 12. Com 13 anos eu saí da casa dos meus pais, fui morar com uma tia em outra cidade, trabalhava como babá e estudava. Às vezes, nos fins de semana, quando ia para casa eu encontrava com a Berenice na cidade.
Até aonde eu sei, a Berenice concluiu a 8ª série (9º ano) e seus pais acharam que estava muito bom, que era hora de casar, e arranjaram um casamento pra ela. Ela se casou com o irmão da Maria Bambú, o Zé Bambú (eles tinham esses apelidos pq eram muito altos). E a Maria Bambú casou com o irmão da Berenice (nada mais óbvio, né?).
Um dia eu vi a Berê com o Zé Bambu, ele com pernas enormes e passos muito rápidos e ela correndinho pra tentar acompanhar aquele pernão. Ela me viu, me olhou e sorriu, um sorriso de quem não teve muitas opções para escolher e por isso mesmo é muito feliz. Nunca mais soube dela, entrei pra faculdade, depois veio o mestrado, escolhi tudo o que tive na vida até hoje (e o pior, até o que não me lembro de ter escolhido, eu sei que escolhi), fiz doutorado, virá o pós-doc, a livre docência... Que merda! Acho que não vai parar nunca! Talvez a Berenice deva ser mais feliz. Gostaria de saber onde ela está, ir à casa dela pra tomar um café, ver como ela vive, provavelmente uma vida simples, tranquila e feliz.
No primeiro ano de faculdade eu voltei a morar em Redenção com meus pais, eu viajava todos os dias para Taubaté, cidade próxima onde eu cursava Ciências Biológicas no período matutino, num ônibus que tinha às 5:30 da manhã. Chegava em casa às 14:00hs, comia alguma coisa e ia pra escola da cidade onde eu dava aula de Biologia até às 22:30hs. Na beira da estrada havia uma casinha e todos os dias, quando o ônibus passava em frente, havia fumaça na chaminé e uma moça, linda, loira, de cabelos compridos, debruçada na janela pra ver o ônibus passar. Eu sempre via aquela moça e pensava no quanto ela parecia feliz e por algum motivo ela me lembrava Berenice. E eu pensava: felicidade é inversamente proporcional ao conhecimento. Quem não sabe que existe coca-cola, não tem vontade de beber coca-cola...



Caraca, eu acho que estava certa o tempo todo, mas por algum motivo misterioso eu não consigo parar, ficar quieta no meu canto, esperando. Tenho que ficar "inventando coisa"... Acho que qualquer dia eu vou procurar a Berenice.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Belém que te quero bem!


Hoje faz dois anos que meu avião adentrou uma cortina densa de chuva e pousou em terras belenenses, quente e úmida Belém. A cortina cinza que avistei pela janela, diferente de toda chuva que eu já havia visto na vida, me fez ter certeza: nada nunca mais seria o mesmo, eu nunca mais seria a mesma... Caí de paraquedas e guarda-chuva...


Mas afinal não é assim todos os dias? A mudança não acontece a cada segundo da vida vivida? Sim, é assim mesmo, viver é mudar! Mudamos quando respiramos, quando pensamos, o tempo todo desde o nosso nascimento e antes dele e depois... A mudança é a única certeza da nossa existência. Mas creio que essa foi das com maior intensidade e com o rito de passagem mais marcante que já tive na vida. Nem a entrada triunfal, vestida de branco, na igreja decorada com rosas vermelhas foi tão significativa que o voo pela cortina de chuva adentro!


Depois, ao descer da aeronave, o impacto com o ar quente e úmido e com o peso e força da energia das águas e das florestas presente no ar de forma inacreditavelmente visível. É mágico, pena que nem todo mundo tenha sentidos de sentir o que se passa além daquilo olhos físicos podem ver. Acredito inclusive que muita gente não se acostuma com os ares da Amazônia muito mais por incompatibilidade de energia do que propriamente pelo calor e umidade do ar, mas elas não sabem definir de onde vem o mal estar que as invadem.


À mim só sentimentos e sensações boas se apossaram d'alma. A força dessa energia toda, condensada e derramada sob a terra na forma de chuva, deixando o ar leve depois de cada tempestade, fez ter certeza do renascimento após cada ciclo. Certeza da Criação e da renovação da vida, dia após dia. Olhar a cortina de chuva vindo no horizonte se tornou uma das minhas visões favoritas, lado à lado com a apreciação do por-do-sol amazônico.


Belém me ensinou a tirar o melhor de cada situação, a olhar para o feio procurando o belo e a olhar para o belo sem sequer reparar o feio. A gente vê o que procura, enxerga aquilo que alimenta no espírito. Se eu só vejo maldade é isso que procuro e alimento em minha alma, é exatamente isso que vou encontrar. Então o que deve ser mudado não é o que eu vejo, mas o que eu sinto, o que eu sou e o que eu procuro. O que eu vejo está na essência daquilo que eu sou...


Claro que existe a maldade, muitas coisas estão erradas, o lixo está espalhado pelas ruas. Porém a única coisa que está de fato ao meu alcance mudar, sou eu mesma, minhas atitudes, meus pensamentos, minha conduta. De nada adianta criticar o lixo de fora e esconder o lixo de dentro. Belém me ensinou a olhar pro barro podre no qual eu me transformei e querer melhorar sua constituição. Um pouquinho a cada dia, voltando a purificação original do amor.


Ah! Belém! Com seus cheiros, cores, sabores. Com todo esse jeito de mulher, faceira, arteira, manhosa, encantadora, sedutora... Dona de um gênio forte, sem meias vontades, ou chove de verdade ou faz sol de rachar mamona. Belém... Belém do meu bem... Belém que eu quero tanto bem... Obrigada por me receber de volta e tão bem!