sexta-feira, 28 de junho de 2019

A bailarina na corda bamba


Alguns caminhos não possuem volta, você inicia e tem que ir até o final e entre o começo e o fim as únicas coisas que se pode fazer é esperar, se equilibrar e continuar! 

Como uma bailarina na corda bamba, sem rede de proteção, sem meio termo. Não, não há como descer dessa corda agora! E lá está ela, a cidade aos seus pés, o vento das alturas, a corda entre dois arranha-céus, o vazio, o frio, a chuva, o sol, o calor. 

Não é possível correr, não dá pra apressar o passo, é pé ante pé, num ritmo próprio, vagaroso, decidido pelas intempéries externas. Os braços estendidos doem, equilíbrio, força, coragem, concentração. Respiração! Transpiração!

Pra baixo o abismo da altura, pra cima o céu, azul nos dias frios de inverno, negro nas noites sem lua, estrelado!

Pé ante pé. A bailarina caminha, demora, espera, respira... O vento vem, o vento passa. Outro passo, compasso! Marcado pelo tic-tac do relógio da catedral, o sino toca, a bailarina sonha. Mais um passo! O tempo vem, o tempo voa, o tempo arrasta!

E agora, no meio da corda, metade! Para, olha pra frente. Não olhe pra traz!! Para, olha pra cima. Não olhe pra baixo! Reinicia, a metade do fim! Respira!

A bailarina segue. Não sabe o que vai encontrar quando chegar, as horas passam, silêncio! Não sabe como será depois daquilo que falta, se completará... ruídos! Não sabe a cor do que procura nem a dor do que espera, vai lenta, enquanto a vida acelera!

O poente está a frente, o pôr-do-sol lembra que haverá outro dia, outros sóis, outros caminhos, outras cordas e outros caminhares! O nascente empurra! Não importam os dias que findaram.

Vai bailarina, suas asas de borboleta te farão voar quando faltar corda! Caminha, voa, segue! No fim haverá outros começos. No fim nada termina e tantas outras coisas só começam quando acaba, a corda. Acorda! 

Baila, na ponta do pé! Baila, nas asas desses novos sonhos que virão! Baila e caminha, que o frio aplaca e em breve chega novamente o verão!

Vai bailarina, voa, que o caminho da metamorfose não tem volta, mas nada supera o prazer do voo e a beleza das asas!