terça-feira, 2 de agosto de 2022

Amamentar (TAMBÉM PODE SER) Amor

Eu queria escrever um texto sobre amamentação, na verdade, mais do que isso, eu queria escrever um texto sobre a minha amamentação, um texto e, além dele, também escrever um relato, mais longo e elaborado. Mas, como o dia mundial da amamentação é hoje, o relato vai ficar pra outro dia, o texto não posso deixar passar porque pra mim amamentar foi uma das coisas mais difíceis da minha maternidade biológica. 

E, antes dela, quando minha opção de maternidade era a adoção, a amamentação já era um espinho no meu peito! Explico: meu coração se dilacerava toda vez que eu lia ou ouvia a frase "amamentar é amor", um "é" definitivo! Não um "também é", não um "pode ser"...  Aquele "é" certeiro, que exclui o fato de que alimentar seu filho de outra forma "também, e com certeza, é amor"! Dar mamadeira é amor! Dar fórmula é amor! Usar sonda de relactação é amor! Nutrir sua criança, seja lá como for, "É" amor! Então, amamentar "também" é amor.

Esse espinho me feriu muito, por muito tempo, pois eu sabia que um filho pela adoção dificilmente seria amamentado no peito. E tive que resignificar o "amamentar" na minha cabeça. Sim, independente da via de parto, cesárea, normal ou adoção, independente da via de nutrição, meu filho seria muito amado! Simplesmente porque a minha maternidade É amor!

Não preciso dizer que é obvio que eu sei que o leite materno é o melhor alimento que um bebê pode receber até seus seis meses de vida. E que, sim, ele deveria ser mantido até pelo menos dois anos de idade. Sei! É científico! Tem milhares de estudos que comprovam, apontam, explicam e justificam! Sou uma cientista, então eu sei!

Nutrição de filho resignificado no meu coração e, páh, engravidei. Uma das coisas mais lindas que a ciência pode me proporcionar até hoje! Viva a ciência e #ForaBolsonaro (pra não esquecer)! Ma-ra-vi-lha! Vou amamentar meu filho, pelo menos esse, no peito, até 15 anos se ele quiser e mais uns meses de lambuja! Vou amamentar na rua, na chuva, na fazenda! E se alguém reclamar eu espirro leite na cara!

Aí vem a segunda parte. Amamentar não "É" só amor, como ela também pode não ser de graça, não ser fácil, não ser simples e, na maioria dos casos, não ter sucesso. E, no nosso país, tudo, o sistema, os profissionais, a indústria, a pobreza, o abandono da mulher no puerpério e na maternidade, tudo mesmo, luta contra a amamentação!

Amamentar pode ser caro, precisa de ajuda, de informação, de intervenção, de rede de apoio... 

Sou muito privilegiada, e sei disso! Saí da maternidade com fórmula, Joanna teve que sofrer intervenções, eu precisei de fitoterápicos e medicamentos alopáticos, precisamos e tivemos o apoio de uma pediatra maravilhosa e de uma consultora de amamentação fantástica, e, claro, o pai mais Phod@astico da Galáxia do nosso lado, por alto foram uns 6 mil na busca da amamentação exclusiva, sem contar da rede de apoio paga pra me ajudar com a limpeza da casa e com a comida congelada. 

Foram noites de dor, choros convulsivos (com e sem lágrimas, porque teve uma hora que elas secaram), medo, insegurança... Mas eu tinha a certeza de que eu estava fazendo a melhor coisa que poderia fazer pela alimentação da minha filha. Então, com 4 meses, conseguimos transitar para a amamentação exclusiva, livre demanda, quase sem dor, quase um paraíso, quase me sentindo a mulher mais Phod@ do mundo por conseguir nutrir a minha filha com meu próprio corpo (e não foi só de leite, foram lágrimas, suor e leite!). 

Hoje, véspera de completar 12 meses, um ano, seguimos em livre demanda pelas noites insones e extremamente cansativas. E, sim, amamentar é importante! Temos que apoiar, incentivar, mas acima de tudo lutar por um país mais justo, com políticas públicas pensadas para mulheres, inclusivas para mães e não com um presidente que acha que mulheres devem ganhar menos porque engravidam! Ponto final!

Então, pra mim, amamentar não é amor! Amamentar é um ato político, e de coragem, e vou amamentar minha filha até o exato dia que for bom pra mim e pra ela! Gratidão, a tudo e todos que me ajudaram nesse caminho! Conseguimos!