Acho que essa não é uma boa semana, bateu um pessimismo que nem pareço eu! Uma descrença na humanidade! E pior é ter que aguentar discurso antipetista, discurso antipsdbista, discurso antiecologista... Discursos... Discursos, de quem não faz nada pra melhorar o mundo e muitas vezes é tão igual aos vilões da própria fala! Mas... Enfim... Arrumaram um nome! Sempre arrumam! Joga pedra na Jeni! Menos os cristãos que só atiram pedras se não tiverem pecados! E ninguém os tem... Apenas os políticos do nosso tempo, do partido x, do partido y, dependendo do seu lado da polarização! E todos os outros políticos da história? E todos os outros pecados da história? E aqueles que chegaram aqui matando e estuprando as índias donas das terras? E todos que acorrentaram negros? Os meus e os teus bisavôs, que ironia, mataram, estupraram e violentaram os meus e os teus bisavôs! Somos essa mistura, gente que matou e gente que morreu! Mistura de sangue ruim, sangue bom... uns quase sabão! Sangue de branco, negro, índio! E ainda tenho que ouvir que filho adotivo dá trabalho porque herda gene ruim. Gene ruim? Quem de nós aqui tem algum gene bom pra deixar nessa terra enlamaçada de meu Deus? E tenho que ouvir que antigamente era tudo melhor, não tinha tanta violência!! Não tinha tanta violência pra quem ô cara pálida?? Eu, com meu sangue de índio e negro, tenho violência saindo pelos poros desde os tempos do descobrimento! Eu, com meu sangue de bruxa que fui queimada pela santa inquisição, fui violentada até todas as minhas moléculas se desintegrarem... triste tempos estes... mais fácil desintegrar um átomo que preconceitos, não é mesmo doutor? Não, não é uma boa semana! Chove demais num lugar, chove de menos noutro! O desmatamento continua avançando, eu vejo, mapeio isso no meu trabalho, fico deprimida! Tenho pensado em chutar o pau do barraco, virar ativista de vez, quem sabe enviar currículo pro Greenpeace? Será mesmo que a paz é verde? Se a vontade que tenho é de atirar na cabeça de quem liga ar condicionado no frio pra dormir com mais uma coberta... de quem joga lixo na rua... de quem constrói hidroelétrica... de quem fica desperdiçando energia pra gerar necessidade de mais energia, desperdiçando água, alimento! Mas em casa, ontem, eu joguei alguns tomates podre, fora! E comprei chocolates da Nestlè, com aquele cacau africano produzido à custa de trabalho escravo, infantil... Dias de lama! Talvez seja só a TPM ou a menopausa precoce, esse calor que me sobe quando vejo criança sendo mal tratada, quando tenho vontade de enfiar a mão na cara daquela mãe que acha errada a lei de incentivo à amamentação, daquela mulher que acha besteira a Maria da Penha, daqueles todos que acham que tudo é culpa Dela e que família é somente papai, mamãe e filhinho, biológico, claro! E poupe-me de me chamar de petista que a mão hoje tá levantada! Cansada! Da chuva que ameaça e não cai! Dos comentários homofóbicos por todo lado, no trabalho, na rua... em casa me safo! Escolhi o cara certo, que escuta música diferente mas pensa igual! Gente é pra brilhar não é pra morrer de fome, nem de pancada, nem do seu preconceito torpe! Ah! Você não vai ler isso, eu sei. Você sabe ler mas não lê... e tanta gente que está lendo pela primeira vez no sertão desse Brasil. Eu sei, você não viu! Não passou na Globo nem foi capa da Veja. Entendo! Você, que nasceu no sudeste, família boa, escolas caras, aqui o povo trabalha, né?... Me esqueci, você tem méritos. Sim! Seu pai trabalhava, você trabalhava, família honesta desde sempre! Afinal pra quê dar o peixe se pode ensinar a pescar! Você, pescador! Que nunca passou fome nem frio... talvez vazio! ... E isso é mesmo só um desabafo, que acaba sem terminar! O mundo continua aí, sofrido... Pobre do meu filho, provavelmente negro, talvez mulher, com certeza adotado! Cuja família talvez não esteja lá naquela definição desalinhada... pobre do meu filho, rico! Rico de pai, de mãe e de amor, que tem aqui pra sobrar, pra abraçar, pra acalentar... Filho, Filha, esse texto mal escrito, doído, vomitado, é pra você! Pra você saber que da porta pra dentro nosso mundo é de iguais, respeito, paz... da porta pra fora teremos que lutar, contra o preconceito, a ignorância, o desamor... Contra a destruição da natureza, a pobreza, a fome, a hipocrisia, o falso pudor...
