domingo, 20 de janeiro de 2013

Conhecimento x Felicidade - a Berenice

Essa é uma reflexão antiga que virou um texto no final de 2010 e resolvi compartilhá-la aqui no blog porque ela continua tão atual na minha vida quanto quando eu era adolescente. Também porque no final de 2012 a Berenice abordou minha irmã na rua pensando que ela fosse eu e, segundo minha irmã (que nem sequer pegou o telefone da menina para que eu pudesse ligar), ela está ótima e muito feliz!
Eu sempre achei que o conhecimento é inversamente proporcional à felicidade. Quanto mais a gente sabe, mais difícil é ser feliz. No espiritismo dizemos que quanto mais te é dado, mais te será pedido. Ou seja, quem sabe mais, tem mais obrigações e consequentemente terá uma prestação de contas mais rígidas do que aquele que sabe pouco.
Outro dia uma pessoa me disse que ter muitas opções era melhor que ter nenhuma, tenho minhas dúvidas em relação a isso, acho que segue a mesma linha de raciocínio do “conhecimento x felicidade”. Se você tem muitas opções terá que escolher uma, logo, poderá escolher errado. O arrependimento é cruel, se arrepender de algo é dolorido. Se você só tem uma opção, é aquilo e pronto.
Quando eu era criança meus pais se mudaram para Redenção da Serra, uma cidadezinha do interior de São Paulo com não mais que 3.000 habitantes, eu tinha 9 anos e na minha turma da escola havia uma menina chamada Berenice. A Berenice era minha amiga, me escrevia cartinhas todos os dias, era uma menina simples que morava na roça, morena e magra, com cabelos muito curtos e sempre olhava pro chão quando falava com a gente porque ela era uma menina tímida. Eu era muito bagunceira e "me achava", desde criança eu já tinha uma personalidade forte de quem sabe exatamente o que quer ou, em muitos casos, o que não quer! Eu estudei com a Berenice dos 9 aos 12. Com 13 anos eu saí da casa dos meus pais, fui morar com uma tia em outra cidade, trabalhava como babá e estudava. Às vezes, nos fins de semana, quando ia para casa eu encontrava com a Berenice na cidade.
Até aonde eu sei, a Berenice concluiu a 8ª série (9º ano) e seus pais acharam que estava muito bom, que era hora de casar, e arranjaram um casamento pra ela. Ela se casou com o irmão da Maria Bambú, o Zé Bambú (eles tinham esses apelidos pq eram muito altos). E a Maria Bambú casou com o irmão da Berenice (nada mais óbvio, né?).
Um dia eu vi a Berê com o Zé Bambu, ele com pernas enormes e passos muito rápidos e ela correndinho pra tentar acompanhar aquele pernão. Ela me viu, me olhou e sorriu, um sorriso de quem não teve muitas opções para escolher e por isso mesmo é muito feliz. Nunca mais soube dela, entrei pra faculdade, depois veio o mestrado, escolhi tudo o que tive na vida até hoje (e o pior, até o que não me lembro de ter escolhido, eu sei que escolhi), fiz doutorado, virá o pós-doc, a livre docência... Que merda! Acho que não vai parar nunca! Talvez a Berenice deva ser mais feliz. Gostaria de saber onde ela está, ir à casa dela pra tomar um café, ver como ela vive, provavelmente uma vida simples, tranquila e feliz.
No primeiro ano de faculdade eu voltei a morar em Redenção com meus pais, eu viajava todos os dias para Taubaté, cidade próxima onde eu cursava Ciências Biológicas no período matutino, num ônibus que tinha às 5:30 da manhã. Chegava em casa às 14:00hs, comia alguma coisa e ia pra escola da cidade onde eu dava aula de Biologia até às 22:30hs. Na beira da estrada havia uma casinha e todos os dias, quando o ônibus passava em frente, havia fumaça na chaminé e uma moça, linda, loira, de cabelos compridos, debruçada na janela pra ver o ônibus passar. Eu sempre via aquela moça e pensava no quanto ela parecia feliz e por algum motivo ela me lembrava Berenice. E eu pensava: felicidade é inversamente proporcional ao conhecimento. Quem não sabe que existe coca-cola, não tem vontade de beber coca-cola...



Caraca, eu acho que estava certa o tempo todo, mas por algum motivo misterioso eu não consigo parar, ficar quieta no meu canto, esperando. Tenho que ficar "inventando coisa"... Acho que qualquer dia eu vou procurar a Berenice.

2 comentários:

  1. Adorei amiga, texto lindo, acho que se adequa muito bem a todos nós. Acho que devo procurar a Berenice tb. hehe

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amiga linda, obrigada! Saudades de você, precisamos marcar aquele café, um cinema, uma pizza ou qualquer outra coisa bacana pra gente botar a conversa em dia! Beijos ;)*

      Excluir