sexta-feira, 3 de junho de 2011

Às vezes...

Às vezes eu sou outra pessoa, alguém que não quer tudo isso que essa “eu” tem, alguém que quer outras coisas, coisas diferentes, coisas opostas...

Às vezes quero sair dessas quatro paredes e começar diferente... seguir outros caminhos... mas continuar aqui... como alguém que vai querendo ficar ou fica quando deve ir.

Às vezes sou essa insatisfação, esse algo inacabado que clama por finalização... as vezes...

Às vezes era isso mesmo que eu queria, mas que de alguma forma obscura poderia ser diferente. Ter outras cores nas paredes da sala, mantendo as cores que tem... ter outras salas espalhadas pelo mundo, mantendo a sala que tem... ter outros mundos na mesma vida, deixando a vida como está...

É esse querer tudo ao mesmo tempo agora que insatisfaz o coração que quer e não consegue... É esse esperar por quem não vem e ter que “ficar só, com as escolhas de antigamente” ou seria “ficar, só com as escolhas...”. Tantos são os problemas que uma vírgula pode trazer...

Às vezes a fumaça do cigarro faz falta, era minha única bailarina... e agora ficou o café, sozinho na sua solidão negra e amarga... continuo bebendo, mas a fumaça não dança...

Às vezes a espera me consome e falta você na lua cheia, você que está aqui mas que outro dia foi embora, há muitos anos atrás...

A mochila espera vazia no armário o tempo de recomeçar, e as promessas deveriam ter prazo de validade...

Às vezes sinto falta da minha insônia, amiga, companheira de noitadas... o sono vem mas minh’alma ainda é boêmia e sofre por ter que dormir...

Às vezes eu queria ser o que eu era, simples assim, vestido solto na primavera... pés descalços na areia... cabelos ao vento no outono... e depois do inverno esperar pelo primeiro botão de flor, pela borboleta saindo do casulo...

Às vezes eu queria ser a borboleta, uma dessas brancas, alva, clara, pequena, dessas que voam em bandos... uma dessas negras, brilhante, azulada, grande e rara, dessas que voam sozinhas... mas uma borboleta...

Às vezes a culpa é sua e não minha, por trazer tanto de diferente pra nascer o mesmo sol amanhã... por mostrar tanto daquilo que é sonho pra mesma noite sem luar... às vezes a culpa é minha por acreditar...

Os cabelos continuam negros e compridos, marca registrada de quem quer ser a mesma e ao mesmo tempo mudar... os olhos ficaram tristes, eles que sorriam e brilhavam antes de você chegar... ou seria antes de você partir daqui pra outro lugar?

Às vezes sinto falta de poesia, falta de música e de sonhos, falta de algo que não seja sério... e me que transborde em mistério como água bebida em taça de cristal, como vinho e chocolate...

Vinho e chocolate... às vezes eu queria que tivessem me avisado antes pra não ter que abrir a porta assim, desavisada...

Às vezes, e só às vezes... eu queria entender os sentimentos que povoam o mundo dos mortos e trazem os meus de volta...

Janaina Maia
Nov/2009

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